minha saída do site lá, parada na pastelaria e elas com a orquestra
Eu jamais me demoraria em espaços em que as pessoas passassem seus dias falando sobre Elon Musk. Eu evito me expor conscientemente e por vontade própria a um ambiente que me faça lembrar da existência de Musk. Foi mais ou menos assim que estar no Twitter parou de fazer sentido. O que foi um pouco maluco, porque eu vivia dizendo que o meu cérebro já criava frases como se fossem tuítes (com um grande poder de síntese e um uso indiscriminado de trocadilhos).
Por muito tempo me pareceu que sair do Twitter seria complicado. Comentar grandes eventos, desabafar sobre alguma situação cotidiana, pedir dicas se filmes e livros pros amigos por ali mobilizou minha atenção no aplicativo por anos. Mas um dia apertei o botão de desativar a conta, recebi o alerta de que teria um mês para voltar, e nunca mais voltei. Já se passaram seis meses.
Claro que o bilionário dos carros elétricos e do lixo espacial ter comprado a rede social foi um incentivo e tanto. Mas a sensação de bem-estar em não saber nada da "treta do dia" é impagável. Quando desativei a conta já fazia um tempo que quando eu ia tuitar, esbarrava em pensamentos como "isso eu posso guardar pra contar na terapia", na vontade de silenciar pessoas de quem eu gosto na vida real, na memória do poema em linha reta de Fernando Pessoa. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho me deparava com discursos dos que têm sido campeões em tudo. Eu, tantas vezes relés, tantas vezes porca, tantas vezes vil me perguntava afinal o que eu andava fazendo ali, entre indiretas e escrutínios da moral alheia. Eu sentia que estávamos nos tornando pessoas mais irritadas e irritantes, dispostas a termos opiniões sobre qualquer coisa da qual não conhecemos tanto.
Fora do Twitter não me tornei mais sábia nem fui mais amada, só tenho vivido o prazer da pequenez, a satisfação do não saber e a tranquilidade de ser insignificante.
Para atividades maçantes no trabalho, gosto de escolher uma playlist ou um álbum que me ajudem a focar na atividade repetitiva do dia. É assim que os indies tristes dominam minhas listas de mais ouvidos. Mas uns dias atrás, antes de decidir o que escutar, descobri uma apresentação no canal do YouTube da Sala São Paulo com Fernanda Takai e Alaíde Costa junto da Orquestra Jazz Sinfônica. a primeira é seguramente a pessoa que eu mais vi se apresentar em palcos, com ou sem o Pato Fu, sua banda de origem que completa 30 anos agora em 2023. Já a Alaíde, que tem 70 anos de carreira, apareceu há pouco na minha vida, e me conquistou com seu álbum mais recente, O que meus calos dizem sobre mim, produzido por Emicida e Marcus Preto.
As duas, Alaíde e Fernanda, cantam de uma maneira singela e têm um jeito meio tímido em cima do palco, mas vêm de contextos bem diferentes. Fernanda do pop rock mineiro dos anos 1990, Alaíde dos primórdios da bossa nova no Rio de Janeiro. Nos seus trabalhos solo, Fernanda Takai se aproxima desse repertório de Alaíde com canções que foram gravadas por Nara Leão e, depois, com um disco em homenagem a Tom Jobim. Achei uma baita ideia colocar as duas juntas no palco: uma vitória pra trabalhadora que sou poder preencher formulários com esse som no fone.
Esse texto caiu em hora perfeita aqui, porque acabei de desativar o meu. Eu já tinha diminuído absurdamente o uso, parado por completo de tuitar. Mas o que me fez tomar a decisão de encerrar mesmo a relação com a rede tá muito dentro do que você falou.
Além do ranço absoluto do Elon Musk nessa história toda, eu percebi que entrar no Twitter era só um movimento para me irritar. E é um alívio liberar isso.
Não conhecia tua newsletter, cheguei pela Carla. Vou ficar <3
oi Babi! gostei muito de ler teu texto hoje. tenho um apego ao twitter das antigas que me impediu de largar o aplicativo até agora. consigo me imaginar parando de usar, não desativando a conta. que coisa. ao mesmo tempo, sinto que se twitasse menos/acompanhasse menos o twitter, escreveria mais. então teu texto me deu um gás pra ficar mais tranquila ao largar um hábito tão velho, tão arraigado em mim.