Metida no meio do povo, percebo que estamos condenados à felicidade. Olho ao redor, sorrimos todos, alguns dançam como se não fossem vistos, outros dançam para serem vistos. Um homem é um boi, uma criança é um boi. O cantador é um cavalo, a serviço da entidade que sopra ao seu ouvido as letras das músicas. É junho em São Luís do Maranhão. Mas esse pensamento apareceu a primeira vez para mim em fevereiro em Olinda. Carnaval e São João, minhas festas favoritas do calendário, vividas intensamente nesse ano. Como numa operação matemática, decomponho o complexo em algo mais simples: as festas que me fazem lembrar que sou natureza e cultura. Sou corpo, um bicho, dada às farras e às folias, celebro a colheita, a comida, a comunidade que dança e alimenta.
Com uma mochila enorme nas minhas costas, cheguei a São Paulo na madrugada fria da virada de junho pra julho. Avião, ônibus, metrô. A desgraçada paisagem da Marginal Tietê. A ideia de que a gente deseja o progresso se prova uma mentira; estamos condenados é à felicidade. Queremos seguir a orquestra, ouvir ritmos, criar coisas lindas, ter lembranças nossas, carregar as memórias de nossos ancestrais. O progresso é essa seta rumo a um futuro inexorável. Mas a nossa felicidade, ah, a nossa felicidade mora é no ritual, nas mudanças das estações do ano, nos ciclos da lua e do sol.
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▶ No Morro do Querosene, em São Paulo, o bumba-meu-boi maranhense tem sua festa três vezes ao ano, organizada pelo grupo Cupuaçu. Foi no começo da década passada, na época da faculdade, que conheci essa celebração, em uma ida ao batizado do boi. As datas das festas são informações preciosas e compartilhadas no boca-a-boca, pra se manter uma celebração comunitária. Mas dá para conhecer um pouco do grupo e da festa nesta série de vídeos em três episódios lançada na pandemia.
▶ Outro dia, para fazer a faxina de casa, resolvi procurar no acervo do programa Roda Viva alguma entrevista que me apetecesse para preencher o silêncio do apartamento. Unindo Maranhão e Carnaval, acho que vale deixar aqui a recomendação da ida de Joãosinho Trinta ao programa. Pra quem curtiu a série Vale o escrito, tem jogo do bicho na pauta da entrevista.
▶ Aprendi com Charlie Brown Jr. que cada escolha uma renúncia, essa é a vida, mas tem sido cada vez mais difícil decidir algo simples como assistir a um filme. O aumento da disponibilidade - que não existia na minha época de assídua frequentadora da locadora do bairro - é acompanhado de uma dúvida constante sobre “será que é isso mesmo que eu quero passar 2 horas assistindo?”. De todas as maneiras de descobrir coisas novas, a minha preferida é certamente indicações de amigos, o algoritmo mais aperfeiçoado para mim até o momento. Mas, nos últimos meses, o perfil do Rafael Argemon no instagram - também conhecido com o sugestivo nome de Cara da Locadora - tem me ajudado a descobrir ou a lembrar de filmes que eu gostaria de ver sem precisar passar pela ingrata luta de ficar olhando cardápio das plataformas de streaming. Fiquei muito feliz quando ele avisou que eu finalmente poderia ver Pacarrete, um filme nacional que perdi quando estreou no cinema e que tem a atriz Marcélia Cartaxo como protagonista. Daria para olhar para diferentes pontos dessa produção e destrinchá-la, mas o papel de artistas locais nas festas populares das nossas cidades talvez seja um dos temas mais latentes que pulsa ali.
como uma carioca vivendo no Maranhão, posso testificar que o São João aqui é diferenciado 💛
nada se compara às festas populares brasileiras! um dia ainda vou passar o são joão no nordeste…