fazer o que dá, da molecada e do que eu mais gosto aqui

Eu fiz o que deu. Foi esse o primeiro pensamento que me ocorreu quando decidi pensar no conjunto de quase 365 dias vividos de 2023. Eu fiz o que deu e isso soa bem. Tudo o que pareceu demandar muito esforço, não fiz. Estive com amigos quando pude estar por inteiro e encontrei pessoas da família quando imaginei que seria leve. Nos momentos em que me cansei, voltei. E, sempre que precisei, descansei. (Um marco histórico importante que coroa esse momento da minha vida foi a instalação de dois ganchos para pendurar rede na sala de casa; venho, desde então, assumindo o risco de não ser mais reconhecida publicamente por minha estrita pontualidade).

Não fiz tudo o que eu queria. Adoraria ter retomado o estudo de alemão, mas a única coisa que coube na minha rotina em outros idiomas foi ler alguns livros no original em inglês. Não voltei aos treinos de basquete nem aos de futebol, mas tive ânimo de, na maior parte dos meses, fazer exercício em casa e na academia do prédio pelas manhãs, antes de ir ao trabalho. Tenho voltado ao surfe. O que me obriga a pensar em exercícios que me fortaleçam e me dêem equilíbrio mas também me obriga a programar idas recorrentes à praia.

Escrevi mais ao longo do ano. Optei por escrever regularmente ao invés de esperar o momento em que poderia escrever perfeitamente. Foram vários textos rápidos, incompletos, sem muita razão de ser. Não resolvi muita coisa através da escrita, mas seguramente fui muito feliz com as pessoas que um dia me contaram gostar de ler o que passa por aqui. Teve uma vez em que deitei na cama após programar o envio da newsletter para o dia seguinte, mas repensei. Liguei o computador, apaguei o texto anterior, escrevi e enviei outro. Entendi que nem tudo deve ser dito quando sentido. Curiosamente, li mais também. Encontrei um horário para encaixar um pouco de leitura na pausa do almoço. Chego, assim, ao fim do ano com 14, quase 15, livros lidos no ano.

Fui a muitos shows, a algumas peças, a poucas exposições. Finalmente entendi como usar levain na receita de pão da minha avó, uma fermentação de 24 horas. Aprendi a ter paciência com esse processo, lidei com a frustração e com o medo de matar os fungos e bactérias que crio num pote de vidro. Das plantas que ganhei, uma morreu (me entristece porque era uma begônia maculata belíssima; as jiboias seguem bem). Assisti a coisas brotarem por acidente (a cabeça de alho na minha geladeira) ou por curiosidade minha (o pé de abacate que observo enquanto escrevo).

Foi um ano em que eu deixei as coisas acontecerem apesar de mim e não mais por causa de mim. Para algumas pessoas pode ter dado a impressão de que eu sumi. Mas estou por aqui, juro, aberta a convites para cafés, disposta a encaixar uma refeição, a planejar um passeio de bicicleta, uma viagem à praia. Eu fiz o que deu, e às vezes pode ter sido de menos por um lado, de mais por outro. Para 2024, não espero outra coisa: que eu possa ter a sorte de conseguir fazer o que der.

Vestígios da molecada, 2023

Passei esses nove meses de newsletter recomendando coisas nessa seção, contando sobre livros, séries, filmes, podcasts, jogos, exposições que achei daora, que me deixaram viciada, pensando em algo importante para mim naqueles momentos.

Pensei em usar essa última edição do ano para fazer uma lista de favoritos de 2023, mas de alguma maneira eles já apareceram nas outras edições; possivelmente aparecerão no futuro. A última recomendação do ano será então um link com as minhas newsletters preferidas aqui do Substack. Pessoas que me divertem, me inspiram, me animam a escrever. O que um dia a gente já chamou de blogroll.

Como contrapartida desses meses todos, aceito indicações de favoritos de vocês, o que de melhor passou por seus olhos, seus ouvidos, suas mãos, suas caixas de e-mail. Não tem como não terminar essa edição sem um agradecimento a todas as pessoas que se inscreveram por aqui, àquelas que decidiram pagar por esse conteúdo sem ter nenhum privilégio com isso, as que recomendam sintética nas suas próprias redes. Muito obrigada! <3